Análise: Era uma Vez em... Hollywood (2019) - BetaQuest

Análise: Era uma Vez em... Hollywood (2019)

Foto: Uol

Composto por um elenco de peso com nomes como Leonardo Di Caprio, Brad Pitt, Margot Robbie e Al Pacino, "Era uma vez em... Hollywoodd" chegou ao cinema no último dia 15.  O filme é a nona obra de Quentin Tarantino e trouxe consigo temas polêmicos e muita expectativa.

Ao utilizar a metalinguagem para abordar a realidade que transborda dos estúdios de Hollywood até as ruas de Los Angeles no final da década de 60, Tarantino presenteou o público com uma perspectiva melancólica mas bela da história da Sétima Arte. Nada menos do que o esperado, o diretor também aproveitou a temática do filme para realizar diversas referências ao cinema e a televisão, bem como para explicar as relações que se estabeleceram entre os grandes nomes de Hollywood e as mecânicas do ramo.


O 9º filme de Tarantino foge ao estilo de seus predecessores ao tirar de foco a violência extrapolada e ter como destaque as diferentes linguagens que se apresentam na produção. Com um relato digressivo, o longa experimenta diferentes abordagens para contar a narrativa, imergindo o público em histórias simples e paralelas para depois resgatá-lo a uma linha de condução principal.

O uso da metalinguagem é um destaque, na medida em que o espectador se vê transitando em meio aos sets de gravação de uma Hollywood do século passado. Novamente, o papel da imersão e da quebra da narrativa é fundamental, principalmente quando entra cena Rick Dalton, um dos protagonistas da trama.

Foto: Reprodução

O personagem de Leonardo Di Caprio é um ator que teve seus momentos de glória no passado, estrelando uma série do gênero western, mas que hoje em dia vive de atuar em pontas como vilão de outros programas. Ele fica com as emoções à flor da pele ao perceber que sua carreira está no começo de uma espiral de decadência. São seus os momentos com maior carga de drama.

As cenas em que Di Caprio deve atuar não apenas como Rick Dalton, mas como Rick Dalton interpretando um vilão de western, são os momentos de maior uso da metalinguagem ao longo do filme e demonstram toda a capacidade de Di Caprio.

Já Brad Pitt encarna Cliff Booth, o dublê e melhor amigo de Dalton. É através do olhar dele que temos a perspectiva das ruas de Los Angeles à época. Seu jeito durão e sua capacidade física são o que permitem a Cliff estar presentes em algumas das cenas de maior tensão e de ação. Apesar de parecer ser uma figura de boa índole, a trama apresenta acontecimentos do passado que fazem o público questionar a empatia que constroem o personagem, tornando-o mais interessante.

Como já era esperado de dois atores renomados, Pitt e Di Caprio conduzem seus personagens com maestria. O resultado dessa parceria somado um roteiro bem trabalhado faz com que o filme flua rapidamente entre momentos de tensão intercalados com momentos bem trabalhados de humor. Assim, as mais de duas horas de filme parecem muito mais curtas.


Foto: Divulgação
Mesmo sem receber tanto espaço quanto seus colegas, Margot Robbie também ganha destaque ao assumir o papel de uma das figuras mais marcantes do longa, Sharon Tate. Incorporando os trejeitos da estrela dos anos 60, a atriz consegue transmitir todo o ar de pureza que se construiu ao redor da figura de Tate. A maneira como a trama retrata as inseguranças da personagem e suas imperfeições, no entanto, ajuda a desconstruir a idealização e criar mais empatia com a personagem.

É a maturidade e o tempo como a trama das personagens se desenrolam em meio ao ar de uma Hollywood reimaginada de maneira nostálgica que traz uma bela sensação de melancolia à obra de Tarantino.

Foto: Reprodução

Manson e referências


A grande mistura de estilos de narrativa de "Era uma vez... em Hollywood" e as subtramas que são contadas ao longo do filme são uma grande experiência por si só. No entanto, quem quiser apreciar a obra ao máximo deve fazer uma breve pesquisa sobre a história de Sharon Tate e sobre os terríveis acontecimentos do ano de 1969.

Entre os fatos que circundaram a vida de Tate e que Tarantino faz questão de abordar está a relação da estrela de Hollywood com seus amores à época, Roman Polanski e Jay Sebring. Todo estilo de vida do trio ganha destaque com uma visão de quem os conhece de perto.

Como esperado pelo público, a história da Família Manson também ganha destaque. A decisão de abordar o caso dos assassinatos de Manson como algo que se desenvolve ao longo do filme permitiu criar mais empatia e maior expectativa com relação aos personagens do núcleo de Sharon Tate. Ao mesmo tempo, a construção dos personagens da seita de Manson trouxe à trama uma sensação maior de tensão.

Foto: Reprodução

Obviamente, ao trabalhar com a temática hollywoodiana, o filme não poderia deixar de fazer referências a outros produtos que marcaram o cinema e a televisão. Entre as obras referenciadas estão Scarface, Green Hornet e Bonanza.

Já espectador mais familiarizado com a filmografia do diretor e que estiver atento também pode encontrar diversas referências a Tarantino. Citações relacionadas ao filme "Bastardos Inglórios" e a recorrente marca de cigarros Red Apple, por exemplo, também estão presentes na trama.

Polêmica e resultado final

Desde que Quentin Tarantino anunciou a história de "Era uma vez em... Hollywood" , a sensação de que possíveis polêmicas surgiriam ficou no ar. No entanto, diferentemente do que todos imaginavam, as críticas não vieram à abordagem do tema Manson mas sim à maneira como Tarantino resolveu retratar outra figura de seu filme.

Completamente estereotipada a lendária figura de Bruce- Lee tornou-se um personagem briguento e arrogante. Até mesmo a capacidade de luta do artista marcial parece ter sido reduzida para encaixar na trama, à medida que o personagem de Brad Pitt consegue lutar de igual para igual com ele. Dessa maneira, as críticas que o filme vem recebendo de parentes e conhecidos de Bruce parecem estar corretas.

Como um todo "Era uma vez em Hollywood" é uma grande obra que aposta nos desejos de Tarantino de explorar sua relação com o cinema e com o audiovisual. No entanto, é válido questionar se a produção é a número um na filmografia do diretor.

Era uma Vez em...Hollywood

Quentin Tarantino (2019)



8.9


Enredo: 9
Visual: 9
Som: 8.5
Coerência: 9

Revisado por:

Pedro Fonseca

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